Diocese da Guarda
Homilia da Eucaristia celebrada na Sé, em acção de graças pelo Pontificado de Bento XVI
Vivemos hoje o último dia do mês de Fevereiro, que é também o último dia do Pontificado do Papa Bento XVI. A Palavra de Deus que escutámos faz-nos interpelações muito sérias a que queremos responder dentro do espírito da Quaresma que estamos a viver. Deixamos, por agora, à consideração de cada um de nós aquelas que nos vêm da catequese apresentada no Evangelho de hoje e fixemos a nossa atenção na passagem de Jeremias que acaba de ser proclamada.
O profeta faz-nos o convite para colocarmos a vida nas mãos de Deus. Quem confia no Senhor é abençoado e passa-se precisamente o contrário com aqueles que põem a sua confiança nos homens, isto é, apenas nos bens terrenos. Estes são chamados malditos pelo texto bíblico.
E agora perguntamo-nos: onde é que está o fiel da balança, a marcar a diferença entre estas duas atitudes diametralmente opostas? A resposta é que está no coração, isto é, naquele centro mais fundo de nós próprios, onde tomamos as nossas decisões. Também lhe podemos chamar consciência. E o autor de Jeremias acrescenta mais uma importante verificação. Desse coração vêm decisões por vezes muito complexas e incompreensíveis, a ponto de o mesmo autor bíblico perguntar – quem o pode entender? E a resposta aparece pronta da parte do próprio Deus – posso eu que sou o Senhor.
Portanto, sabemos que é na abertura a Deus, no diálogo com o Senhor que se processa no íntimo mais íntimo das nossas consciências que cada um de nós há-de saber amadurecer e tomar as suas decisões.
Foi o que fez o Papa Bento XVI.
Como ele o disse em penicprio dia em que o Papa comindar e percorrer estes e outros caminhos imprtantes , esfoço de conversumanizantes do nosso futurúblico, pensou demoradamente, rezou e decidiu renunciar às funções que lhe estavam confiadas, à frente da Igreja, na Cadeira de S. Pedro, desde o dia 19 de Abril de 2005.
Foi esta uma decisão que surpreendeu a Igreja, mas também o próprio mundo inteiro. E nós, logo no próprio dia em que o Papa comunicou esta sua decisão, publicámos uma nota onde se dizia que toda a nossa Diocese da Guarda dava abundantes graças a Deus por estes quase 8 anos do pontificado de Bento XVI. Hoje, na Eucaristia que estamos a celebrar, expressamos diante do Senhor essa acção de graças e também pedimos todas as Suas bênçãos para o novo Papa que será eleito no próximo conclave.
Agora, olhando para este pontificado de Bento XVI, reconhecemos que ele foi marcado pelo inteligente discernimento das mais variadas situações ocorridas na vida da Igreja, mas também do próprio mundo; e igualmente por atitudes de grande coragem assumidas perante os numerosos problemas que surgiram tanto na vida interna da Igreja como da própria sociedade em geral. Podemos dizer que o Papa Bento XVI levou a sério a vocação da Igreja que, por mandato do Seu Fundador Jesus Cristo, deve, de facto, estar atenta a todas as situações que se vivem no mundo, particularmente aquelas que mais afectam a vida das pessoas. Por isso, é católica. Sendo assim, compreendemos que, quem quer que venha a ser o Papa eleito no próximo conclave, ele colocará necessariamente na agenda das suas prioridades a atenção a todas as situações das mais diversas geografias do mundo.
Convido, por isso, a que na nossa oração pela escolha e pelo ministério do próximo Papa, tenhamos desde já em atenção aqueles que são os grandes desafios que se colocam à Igreja neste momento histórico. E o maior desafio da Igreja para os próximos tempos vai ser, como hoje já o é, a obrigação de aprofundar as relações e o diálogo com o mundo, em particular com as culturas dominantes na vida dos povos e nações.
Nós sabemos que os valores do Evangelho são decisivos para a construção de uma sociedade com futuro e nomeadamente para a superação da crise que afecta sobretudo a sociedade ocidental onde nos situamos. E todos nós estamos a sentir que a Igreja precisa de crescer em coragem, mas também em humildade, para saber oferecer ao mundo o património do Evangelho. De facto este património é importante e em muitos aspectos decisivo no processo de discernir os caminhos verdadeiramente humanizantes do nosso futuro colectivo. Para responder a este desafio à Igreja pede-se, antes de mais, esforço de conversão ao essencial da mensagem evangélica e depois também coragem para assumir as novas formas de comunicar que permitam desfazer distâncias entre a Fé e a vida das pessoas e da sociedade.
Na nossa oração, peçamos desde já pelo novo Papa que o Senhor vai enviar para nos ajudar e percorrer estes e outros caminhos importantes para o real encontro da Fé com a vida das pessoas.
28/02/2013
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda