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Secretariado Diocesano da Guarda dos Meios de Comunicação Social

O Secretariado Diocesano da Guarda dos Meios de Comunicação Social tem como finalidade promover o diálogo com os Meios de Comunicação Social locais, regionais e nacionais.

Secretariado Diocesano da Guarda dos Meios de Comunicação Social

O Secretariado Diocesano da Guarda dos Meios de Comunicação Social tem como finalidade promover o diálogo com os Meios de Comunicação Social locais, regionais e nacionais.

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2011

27.12.10, dioceseguardacsociais

Liberdade religiosa, caminho para a paz

 

1. No início de um ano novo, desejo fazer chegar a todos e cada um os meus votos: votos de serenidade e prosperidade, mas sobretudo votos de paz. Infelizmente também o ano que encerra as portas esteve marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis actos de violência e de intolerância religiosa.

Penso, em particular, na amada terra do Iraque, que, no seu caminho para a desejada estabilidade e reconciliação, continua a ser cenário de violências e atentados. Recordo as recentes tribulações da comunidade cristã, e de modo especial o vil ataque contra a catedral siro-católica de «Nossa Senhora do Perpétuo Socorro» em Bagdad, onde, no passado dia 31 de Outubro, foram assassinados dois sacerdotes e mais de cinquenta fiéis, quando se encontravam reunidos para a celebração da Santa Missa. A este ataque seguiram-se outros nos dias sucessivos, inclusive contra casas privadas, gerando medo na comunidade cristã e o desejo, por parte de muitos dos seus membros, de emigrar à procura de melhores condições de vida. Manifesto-lhes a minha solidariedade e a da Igreja inteira, sentimento que ainda recentemente teve uma concreta expressão na Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, a qual encorajou as comunidades católicas no Iraque e em todo o Médio Oriente a viverem a comunhão e continuarem a oferecer um decidido testemunho de fé naquelas terras.

Agradeço vivamente aos governos que se esforçam por aliviar os sofrimentos destes irmãos em humanidade e convido os católicos a orarem pelos seus irmãos na fé que padecem violências e intolerâncias e a serem solidários com eles. Neste contexto, achei particularmente oportuno partilhar com todos vós algumas reflexões sobre a liberdade religiosa, caminho para a paz. De facto, é doloroso constatar que, em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal. Noutras regiões, há formas mais silenciosas e sofisticadas de preconceito e oposição contra os crentes e os símbolos religiosos. Os cristãos são, actualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em sobressalto por causa da sua procura da verdade, da sua fé em Jesus Cristo e do seu apelo sincero para que seja reconhecida a liberdade religiosa. Não se pode aceitar nada disto, porque constitui uma ofensa a Deus e à dignidade humana; além disso, é uma ameaça à segurança e à paz e impede a realização de um desenvolvimento humano autêntico e integral.[1]

De facto, na liberdade religiosa exprime-se a especificidade da pessoa humana, que, por ela, pode orientar a própria vida pessoal e social para Deus, a cuja luz se compreendem plenamente a identidade, o sentido e o fim da pessoa. Negar ou limitar arbitrariamente esta liberdade significa cultivar uma visão redutiva da pessoa humana; obscurecer a função pública da religião significa gerar uma sociedade injusta, porque esta seria desproporcionada à verdadeira natureza da pessoa; isto significa tornar impossível a afirmação de uma paz autêntica e duradoura para toda a família humana.

Por isso, exorto os homens e mulheres de boa vontade a renovarem o seu compromisso pela construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a sua própria religião ou a sua fé e viver o seu amor a Deus com todo o coração, toda a alma e toda a mente (cf. Mt 22, 37). Este é o sentimento que inspira e guia a Mensagem para o XLIV Dia Mundial da Paz, dedicada ao tema: Liberdade religiosa, caminho para a paz.

 

Direito sagrado à vida e a uma vida espiritual

 

2. O direito à liberdade religiosa está radicado na própria dignidade da pessoa humana,[2] cuja natureza transcendente não deve ser ignorada ou negligenciada. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 27). Por isso, toda a pessoa é titular do direito sagrado a uma vida íntegra, mesmo do ponto de vista espiritual. Sem o reconhecimento do próprio ser espiritual, sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana retrai-se sobre si mesma, não consegue encontrar resposta para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros, nem consegue sequer experimentar uma liberdade autêntica e desenvolver uma sociedade justa.[3]

A Sagrada Escritura, em sintonia com a nossa própria experiência, revela o valor profundo da dignidade humana: «Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes? Fizestes dele quase um ser divino, de honra e glória o coroastes; destes-lhe poder sobre a obra das vossas mãos, tudo submetestes a seus pés» (Sl 8, 4-7).

Perante a sublime realidade da natureza humana, podemos experimentar a mesma admiração expressa pelo salmista. Esta manifesta-se como abertura ao Mistério, como capacidade de interrogar-se profundamente sobre si mesmo e sobre a origem do universo, como íntima ressonância do Amor supremo de Deus, princípio e fim de todas as coisas, de cada pessoa e dos povos.[4] A dignidade transcendente da pessoa é um valor essencial da sabedoria judaico-cristã, mas, graças à razão, pode ser reconhecida por todos. Esta dignidade, entendida como capacidade de transcender a própria materialidade e buscar a verdade, há-de ser reconhecida como um bem universal, indispensável na construção duma sociedade orientada para a realização e a plenitude do homem. O respeito de elementos essenciais da dignidade do homem, tais como o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda a norma social e jurídica.

 

Liberdade religiosa e respeito recíproco

 

3. A liberdade religiosa está na origem da liberdade moral. Com efeito, a abertura à verdade e ao bem, a abertura a Deus, radicada na natureza humana, confere plena dignidade a cada um dos seres humanos e é garante do respeito pleno e recíproco entre as pessoas. Por conseguinte, a liberdade religiosa deve ser entendida não só como imunidade da coacção mas também, e antes ainda, como capacidade de organizar as próprias opções segundo a verdade.

Existe uma ligação indivisível entre liberdade e respeito; de facto, «cada homem e cada grupo social estão moralmente obrigados, no exercício dos próprios direitos, a ter em conta os direitos alheios e os seus próprios deveres para com os outros e o bem comum».[5] 

Uma liberdade hostil ou indiferente a Deus acaba por se negar a si mesma e não garante o pleno respeito do outro. Uma vontade, que se crê radicalmente incapaz de procurar a verdade e o bem, não tem outras razões objectivas nem outros motivos para agir senão os impostos pelos seus interesses momentâneos e contingentes, não tem uma «identidade» a preservar e construir através de opções verdadeiramente livres e conscientes. Mas assim não pode reclamar o respeito por parte de outras «vontades», também estas desligadas do próprio ser mais profundo e capazes, por conseguinte, de fazer valer outras «razões» ou mesmo nenhuma «razão». A ilusão de encontrar no relativismo moral a chave para uma pacífica convivência é, na realidade, a origem da divisão e da negação da dignidade dos seres humanos. Por isso se compreende a necessidade de reconhecer uma dupla dimensão na unidade da pessoa humana: a religiosa e a social. A este respeito, é inconcebível que os crentes «tenham de suprimir uma parte de si mesmos – a sua fé – para serem cidadãos activos; nunca deveria ser necessário renegar a Deus, para se poder gozar dos próprios direitos».[6]

 

A família, escola de liberdade e de paz

 

4. Se a liberdade religiosa é caminho para a paz, a educação religiosa é estrada privilegiada para habilitar as novas gerações a reconhecerem no outro o seu próprio irmão e a sua própria irmã, com quem caminhar juntos e colaborar para que todos se sintam membros vivos de uma mesma família humana, da qual ninguém deve ser excluído.

A família fundada sobre o matrimónio, expressão de união íntima e de complementaridade entre um homem e uma mulher, insere-se neste contexto como a primeira escola de formação e de crescimento social, cultural, moral e espiritual dos filhos, que deveriam encontrar sempre no pai e na mãe as primeiras testemunhas de uma vida orientada para a busca da verdade e para o amor de Deus. Os próprios pais deveriam ser sempre livres para transmitir, sem constrições e responsavelmente, o próprio património de fé, de valores e de cultura aos filhos. A família, primeira célula da sociedade humana, permanece o âmbito primário de formação para relações harmoniosas a todos os níveis de convivência humana, nacional e internacional. Esta é a estrada que se há-de sapientemente percorrer para a construção de um tecido social robusto e solidário, para preparar os jovens à assunção das próprias responsabilidades na vida, numa sociedade livre, num espírito de compreensão e de paz.

 

Um património comum

 

5. Poder-se-ia dizer que, entre os direitos e as liberdades fundamentais radicados na dignidade da pessoa, a liberdade religiosa goza de um estatuto especial. Quando se reconhece a liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana é respeitada na sua raiz e reforça-se a índole e as instituições dos povos. Pelo contrário, quando a liberdade religiosa é negada, quando se tenta impedir de professar a própria religião ou a própria fé e de viver de acordo com elas, ofende-se a dignidade humana e, simultaneamente, acabam ameaçadas a justiça e a paz, que se apoiam sobre a recta ordem social construída à luz da Suma Verdade e do Sumo Bem.

Neste sentido, a liberdade religiosa é também uma aquisição de civilização política e jurídica. Trata-se de um bem essencial: toda a pessoa deve poder exercer livremente o direito de professar e manifestar, individual ou comunitariamente, a própria religião ou a própria fé, tanto em público como privadamente, no ensino, nos costumes, nas publicações, no culto e na observância dos ritos. Não deveria encontrar obstáculos, se quisesse eventualmente aderir a outra religião ou não professar religião alguma. Neste âmbito, revela-se emblemático e é uma referência essencial para os Estados o ordenamento internacional, enquanto não consente alguma derrogação da liberdade religiosa, salvo a legítima exigência da justa ordem pública.[7] Deste modo, o ordenamento internacional reconhece aos direitos de natureza religiosa o mesmo status do direito à vida e à liberdade pessoal, comprovando a sua pertença ao núcleo essencial dos direitos do homem, àqueles direitos universais e naturais que a lei humana não pode jamais negar.

A liberdade religiosa não é património exclusivo dos crentes, mas da família inteira dos povos da terra. É elemento imprescindível de um Estado de direito; não pode ser negada, sem ao mesmo tempo minar todos os direitos e as liberdades fundamentais, pois é a sua síntese e ápice. É «o papel de tornassol para verificar o respeito de todos os outros direitos humanos».[8] Ao mesmo tempo que favorece o exercício das faculdades humanas mais específicas, cria as premissas necessárias para a realização de um desenvolvimento integral, que diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em cada uma das suas dimensões.[9]

 

A dimensão pública da religião 

 

6. Embora movendo-se a partir da esfera pessoal, a liberdade religiosa – como qualquer outra liberdade – realiza-se na relação com os outros. Uma liberdade sem relação não é liberdade perfeita. Também a liberdade religiosa não se esgota na dimensão individual, mas realiza-se na própria comunidade e na sociedade, coerentemente com o ser relacional da pessoa e com a natureza pública da religião.

O relacionamento é uma componente decisiva da liberdade religiosa, que impele as comunidades dos crentes a praticarem a solidariedade em prol do bem comum. Cada pessoa permanece única e irrepetível e, ao mesmo tempo, completa-se e realiza-se plenamente nesta dimensão comunitária.

Inegável é a contribuição que as religiões prestam à sociedade. São numerosas as instituições caritativas e culturais que atestam o papel construtivo dos crentes na vida social. Ainda mais importante é a contribuição ética da religião no âmbito político. Tal contribuição não deveria ser marginalizada ou proibida, mas vista como válida ajuda para a promoção do bem comum. Nesta perspectiva, é preciso mencionar a dimensão religiosa da cultura, tecida através dos séculos graças às contribuições sociais e sobretudo éticas da religião. Tal dimensão não constitui de modo algum uma discriminação daqueles que não partilham a sua crença, mas antes reforça a coesão social, a integração e a solidariedade.

 

Liberdade religiosa, força de liberdade e de civilização:
os perigos da sua instrumentalização

 

7. A instrumentalização da liberdade religiosa para mascarar interesses ocultos, como por exemplo a subversão da ordem constituída, a apropriação de recursos ou a manutenção do poder por parte de um grupo, pode provocar danos enormes às sociedades. O fanatismo, o fundamentalismo, as práticas contrárias à dignidade humana não se podem jamais justificar, e menos ainda o podem ser se realizadas em nome da religião. A profissão de uma religião não pode ser instrumentalizada, nem imposta pela força. Por isso, é necessário que os Estados e as várias comunidades humanas nunca se esqueçam que a liberdade religiosa é condição para a busca da verdade e que a verdade não se impõe pela violência mas pela «força da própria verdade».[10] Neste sentido, a religião é uma força positiva e propulsora na construção da sociedade civil e política.

Como se pode negar a contribuição das grandes religiões do mundo para o desenvolvimento da civilização? A busca sincera de Deus levou a um respeito maior da dignidade do homem. As comunidades cristãs, com o seu património de valores e princípios, contribuíram imenso para a tomada de consciência das pessoas e dos povos a respeito da sua própria identidade e dignidade, bem como para a conquista de instituições democráticas e para a afirmação dos direitos do homem e seus correlativos deveres.

Também hoje, numa sociedade cada vez mais globalizada, os cristãos são chamados – não só através de um responsável empenhamento civil, económico e político, mas também com o testemunho da própria caridade e fé – a oferecer a sua preciosa contribuição para o árduo e exaltante compromisso em prol da justiça, do desenvolvimento humano integral e do recto ordenamento das realidades humanas. A exclusão da religião da vida pública subtrai a esta um espaço vital que abre para a transcendência. Sem esta experiência primária, revela-se uma tarefa árdua orientar as sociedades para princípios éticos universais e torna-se difícil estabelecer ordenamentos nacionais e internacionais nos quais os direitos e as liberdades fundamentais possam ser plenamente reconhecidos e realizados, como se propõem os objectivos – infelizmente ainda menosprezados ou contestados – da Declaração Universal dos direitos do homem de 1948.

 

Uma questão de justiça e de civilização:
o fundamentalismo e a hostilidade contra os crentes prejudicam
a laicidade positiva dos Estados

 

8. A mesma determinação, com que são condenadas todas as formas de fanatismo e de fundamentalismo religioso, deve animar também a oposição a todas as formas de hostilidade contra a religião, que limitam o papel público dos crentes na vida civil e política.

Não se pode esquecer que o fundamentalismo religioso e o laicismo são formas reverberadas e extremas de rejeição do legítimo pluralismo e do princípio de laicidade. De facto, ambas absolutizam uma visão redutiva e parcial da pessoa humana, favorecendo formas, no primeiro caso, de integralismo religioso e, no segundo, de racionalismo. A sociedade, que quer impor ou, ao contrário, negar a religião por meio da violência, é injusta para com a pessoa e para com Deus, mas também para consigo mesma. Deus chama a Si a humanidade através de um desígnio de amor, o qual, ao mesmo tempo que implica a pessoa inteira na sua dimensão natural e espiritual, exige que lhe corresponda em termos de liberdade e de responsabilidade, com todo o coração e com todo o próprio ser, individual e comunitário. Sendo assim, também a sociedade, enquanto expressão da pessoa e do conjunto das suas dimensões constitutivas, deve viver e organizar-se de modo a favorecer a sua abertura à transcendência. Por isso mesmo, as leis e as instituições duma sociedade não podem ser configuradas ignorando a dimensão religiosa dos cidadãos ou de modo que prescindam completamente da mesma; mas devem ser comensuradas – através da obra democrática de cidadãos conscientes da sua alta vocação – ao ser da pessoa, para o poderem favorecer na sua dimensão religiosa. Não sendo esta uma criação do Estado, não pode ser manipulada, antes deve contar com o seu reconhecimento e respeito.

O ordenamento jurídico a todos os níveis, nacional e internacional, quando consente ou tolera o fanatismo religioso ou anti-religioso, falta à sua própria missão, que consiste em tutelar e promover a justiça e o direito de cada um. Tais realidades não podem ser deixadas à mercê do arbítrio do legislador ou da maioria, porque, como já ensinava Cícero, a justiça consiste em algo mais do que um mero acto produtivo da lei e da sua aplicação. A justiça implica reconhecer a cada um a sua dignidade,[11] a qual, sem liberdade religiosa garantida e vivida na sua essência, fica mutilada e ofendida, exposta ao risco de cair sob o predomínio dos ídolos, de bens relativos transformados em absolutos. Tudo isto expõe a sociedade ao risco de totalitarismos políticos e ideológicos, que enfatizam o poder público, ao mesmo tempo que são mortificadas e coarctadas, como se lhe fizessem concorrência, as liberdades de consciência, de pensamento e de religião.

 

Diálogo entre instituições civis e religiosas

 

9. O património de princípios e valores expressos por uma religiosidade autêntica é uma riqueza para os povos e respectivas índoles: fala directamente à consciência e à razão dos homens e mulheres, lembra o imperativo da conversão moral, motiva para aperfeiçoar a prática das virtudes e aproximar-se amistosamente um do outro sob o signo da fraternidade, como membros da grande família humana.[12]

No respeito da laicidade positiva das instituições estatais, a dimensão pública da religião deve ser sempre reconhecida. Para isso, um diálogo sadio entre as instituições civis e as religiosas é fundamental para o desenvolvimento integral da pessoa humana e da harmonia da sociedade.  

 

Viver no amor e na verdade

 

10. No mundo globalizado, caracterizado por sociedades sempre mais multiétnicas e pluriconfessionais, as grandes religiões podem constituir um factor importante de unidade e paz para a família humana. Com base nas suas próprias convicções religiosas e na busca racional do bem comum, os seus membros são chamados a viver responsavelmente o próprio compromisso num contexto de liberdade religiosa. Nas variadas culturas religiosas, enquanto há que rejeitar tudo aquilo que é contra a dignidade do homem e da mulher, é preciso, ao contrário, valer-se daquilo que resulta positivo para a convivência civil.

O espaço público, que a comunidade internacional torna disponível para as religiões e para a sua proposta de «vida boa», favorece o aparecimento de uma medida compartilhável de verdade e de bem e ainda de um consenso moral, que são fundamentais para uma convivência justa e pacífica. Os líderes das grandes religiões, pela sua função, influência e autoridade nas respectivas comunidades, são os primeiros a ser chamados ao respeito recíproco e ao diálogo.

Os cristãos, por sua vez, são solicitados pela sua própria fé em Deus, Pai do Senhor Jesus Cristo, a viver como irmãos que se encontram na Igreja e colaboram para a edificação de um mundo, onde as pessoas e os povos «não mais praticarão o mal nem a destruição (...), porque o conhecimento do Senhor encherá a terra, como as águas enchem o leito do mar» (Is 11, 9). 

 

Diálogo como busca em comum

 

11. Para a Igreja, o diálogo entre os membros de diversas religiões constitui um instrumento importante para colaborar com todas as comunidades religiosas para o bem comum. A própria Igreja nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. «Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens».[13]

A estrada indicada não é a do relativismo nem do sincretismo religioso. De facto, a Igreja «anuncia, e tem mesmo a obrigação de anunciar incessantemente Cristo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14, 6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo mesmo todas as coisas».[14] Todavia isto não exclui o diálogo e a busca comum da verdade em diversos âmbitos vitais, porque, como diz uma expressão usada frequentemente por São Tomás de Aquino, «toda a verdade, independentemente de quem a diga, provém do Espírito Santo».[15]

Em 2011, tem lugar o 25º aniversário da Jornada Mundial de Oração pela Paz, que o Venerável Papa João Paulo II convocou em Assis em 1986. Naquela ocasião, os líderes das grandes religiões do mundo deram testemunho da religião como sendo um factor de união e paz, e não de divisão e conflito. A recordação daquela experiência é motivo de esperança para um futuro onde todos os crentes se sintam e se tornem autenticamente obreiros de justiça e de paz.

 

Verdade moral na política e na diplomacia

 

12. A política e a diplomacia deveriam olhar para o património moral e espiritual oferecido pelas grandes religiões do mundo, para reconhecer e afirmar verdades, princípios e valores universais que não podem ser negados sem, com os mesmos, negar-se a dignidade da pessoa humana. Mas, em termos práticos, que significa promover a verdade moral no mundo da política e da diplomacia? Quer dizer agir de maneira responsável com base no conhecimento objectivo e integral dos factos; quer dizer desmantelar ideologias políticas que acabam por suplantar a verdade e a dignidade humana e pretendem promover pseudo-valores com o pretexto da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos; quer dizer favorecer um empenho constante de fundar a lei positiva sobre os princípios da lei natural.[16] Tudo isto é necessário e coerente com o respeito da dignidade e do valor da pessoa humana, sancionado pelos povos da terra na Carta da Organização das Nações Unidas de 1945, que apresenta valores e princípios morais universais de referência para as normas, as instituições, os sistemas de convivência a nível nacional e internacional.

 

Para além do ódio e do preconceito

 

13. Não obstante os ensinamentos da história e o compromisso dos Estados, das organizações internacionais a nível mundial e local, das organizações não governamentais e de todos os homens e mulheres de boa vontade que cada dia se empenham pela tutela dos direitos e das liberdades fundamentais, ainda hoje no mundo se registam perseguições, descriminações, actos de violência e de intolerância baseados na religião. De modo particular na Ásia e na África, as principais vítimas são os membros das minorias religiosas, a quem é impedido de professar livremente a própria religião ou mudar para outra, através da intimidação e da violação dos direitos, das liberdades fundamentais e dos bens essenciais, chegando até à privação da liberdade pessoal ou da própria vida.

Temos depois, como já disse, formas mais sofisticadas de hostilidade contra a religião, que nos países ocidentais se exprimem por vezes com a renegação da própria história e dos símbolos religiosos nos quais se reflectem a identidade e a cultura da maioria dos cidadãos. Frequentemente tais formas fomentam o ódio e o preconceito e não são coerentes com uma visão serena e equilibrada do pluralismo e da laicidade das instituições, sem contar que as novas gerações correm o risco de não entrar em contacto com o precioso património espiritual dos seus países.

A defesa da religião passa pela defesa dos direitos e liberdades das comunidades religiosas. Assim, os líderes das grandes religiões do mundo e os responsáveis das nações renovem o compromisso pela promoção e a tutela da liberdade religiosa, em particular pela defesa das minorias religiosas; estas não constituem uma ameaça contra a identidade da maioria, antes, pelo contrário, são uma oportunidade para o diálogo e o mútuo enriquecimento cultural. A sua defesa representa a maneira ideal para consolidar o espírito de benevolência, abertura e reciprocidade com que se há-de tutelar os direitos e as liberdades fundamentais em todas as áreas e regiões do mundo.

 

Liberdade religiosa no mundo

 

14. Dirijo-me, por fim, às comunidades cristãs que sofrem perseguições, discriminações, actos de violência e intolerância, particularmente na Ásia, na África, no Médio Oriente e de modo especial na Terra Santa, lugar escolhido e abençoado por Deus. Ao mesmo tempo que lhes renovo a expressão do meu afecto paterno e asseguro a minha oração, peço a todos os responsáveis que intervenham prontamente para pôr fim a toda a violência contra os cristãos que habitam naquelas regiões. Que os discípulos de Cristo não desanimem com as presentes adversidades, porque o testemunho do Evangelho é e será sempre sinal de contradição.

Meditemos no nosso coração as palavras do Senhor Jesus: «Felizes os que choram, porque hão-se ser consolados. (...) Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. (...) Felizes sereis quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentido, vos acusarem de toda a espécie de mal. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos Céus a vossa recompensa» (Mt 5, 4-12). Por isso, renovemos «o compromisso por nós assumido no sentido da indulgência e do perdão – que invocamos de Deus para nós, no “Pai-nosso” – por havermos posto, nós próprios, a condição e a medida da desejada misericórdia: “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”(Mt 6, 12)».[17] A violência não se vence com a violência. O nosso grito de dor seja sempre acompanhado pela fé, pela esperança e pelo testemunho do amor de Deus. Faço votos também de que cessem no Ocidente, especialmente na Europa, a hostilidade e os preconceitos contra os cristãos pelo facto de estes pretenderem orientar a própria vida de modo coerente com os valores e os princípios expressos no Evangelho. Mais ainda, que a Europa saiba reconciliar-se com as próprias raízes cristãs, que são fundamentais para compreender o papel que teve, tem e pretende ter na história; saberá assim experimentar justiça, concórdia e paz, cultivando um diálogo sincero com todos os povos.

 

Liberdade religiosa, caminho para a paz

 

15. O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional.

A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projecto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou económico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações. Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada. Convido todos aqueles que desejam tornar-se obreiros de paz e sobretudo os jovens a prestarem ouvidos à própria voz interior, para encontrar em Deus a referência estável para a conquista de uma liberdade autêntica, a força inesgotável para orientar o mundo com um espírito novo, capaz de não repetir os erros do passado. Como ensina o Servo de Deus Papa Paulo VI, a cuja sabedoria e clarividência se deve a instituição do Dia Mundial da Paz, «é preciso, antes de mais nada, proporcionar à Paz outras armas, que não aquelas que se destinam a matar e a exterminar a humanidade. São necessárias sobretudo as armas morais, que dão força e prestígio ao direito internacional; aquela arma, em primeiro lugar, da observância dos pactos».[18] A liberdade religiosa é uma autêntica arma da paz, com uma missão histórica e profética. De facto, ela valoriza e faz frutificar as qualidades e potencialidades mais profundas da pessoa humana, capazes de mudar e tornar melhor o mundo; consente alimentar a esperança num futuro de justiça e de paz, mesmo diante das graves injustiças e das misérias materiais e morais. Que todos os homens e as sociedades aos diversos níveis e nos vários ângulos da terra possam brevemente experimentar a liberdade religiosa, caminho para a paz!

 

Vaticano, 8 de Dezembro de 2010.

 

BENEDICTUS PP XVI 

Apresentação do livro "Quando for grande quero ser padre"

20.12.10, dioceseguardacsociais

Intervenção do Padre José manuel Martins na apresentação do livro "Quando for grande quero ser padre", no dia 17 de Dezembro, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço

 

Quando for grande quero ser Padre

Seduzidos por Cristo. Testemunhas da sua ressurreição.

 

 

 

            Os meus alunos riam-se, considerando uma simples brincadeira ou uma manifestação precoce de loucura, sempre que lhes falava do sonho da minha vida: quando for grande quero ser padre. Quando se aproximava alguma ordenação sacerdotal, havia alguém que sempre me interpelava: “Senhor Padre, é desta vez que vai mesmo ser padre?” Eu, quase invariavelmente, respondia: “Ainda não. Não tenho pressa”.

            Devo confessar que essa minha loucura persiste, porque o sonho que está na sua origem continua a ser o sonho que anima a minha vida. E a loucura atingiu tal gravidade que me impeliu a partilhar este meu sonho, escrevendo um livro: “Quando for grande quero ser padre”. Dependo tanto deste sonho que, sem ele, não conseguiria viver, não poderia ser fiel a Deus e a minha vida seria estéril e inútil.

            Mas qual é a verdadeira origem deste sonho, esta consciência e convicção de não ser ainda, este desejo e aspiração de apenas vir a ser num futuro mais ou menos distante? Por outras palavras, como explicar que somente queira ser quando for grande aquilo que já deveria ser em cada dia, no hoje da minha vida e missão?

            Caminhando com Jesus, desde o seu Baptismo até à sua Ascensão, apoiado nos relatos evangélicos, ao ver como Jesus forma os apóstolos, a missão que lhes confia e o modo como quer que eles a vivam, descubro que ser padre segundo Jesus Cristo é muito mais e muito diferente do modo como eu sou e também do modelo de padre que a Igreja me propõe.

            Jesus quer que os apóstolos O acompanhem todo o tempo do seu ministério público, que estabeleçam com Ele uma relação pessoal, sejam ouvintes e testemunhas directas das suas palavras e obras, conheçam a sua vida íntima, descubram a sua verdadeira identidade (“E vós, quem dizeis que Eu sou?” – Mt 16,15), e O amem de verdade (“Tu és deveras meu amigo?” – Jo 21,17). Só quem O conhece e O ama assim – quem superou o exame da fé e do amor – estará verdadeiramente seduzido por Jesus e aceitará continuar a sua missão.

            Jesus quer que os apóstolos, tal como Ele, com a mesma radicalidade e a mesma entrega, proclamem o Evangelho, a Boa Nova da Salvação, o reino de Deus. O reino de Deus, que Jesus anuncia e põe em marcha, é o mundo novo que Deus sonhou para os homens, um mundo segundo a medida do seu amor por eles. Um mundo onde todos os homens, e não apenas alguns, possam viver com dignidade, realizar-se como pessoas e ser autenticamente felizes.

            Jesus quer que os apóstolos, com a ousadia e a frontalidade dos profetas, anunciem o reino de Deus como uma Boa Nova para os pobres e doentes, para os oprimidos e prisioneiros, para os excluídos e marginalizados da sociedade, para os que procuram o sentido da vida e para os homens pecadores; que, com a solicitude e a bondade dos pastores, o façam chegar à vida e ao coração de cada pessoa; e, como sacerdotes, perpetuem o mistério do amor de Deus, levado ao extremo na oferta que Jesus fez de si mesmo na cruz: um amor que vence o pecado e a morte, que redime e recria, liberta e salva o homem.

            Jesus quer que os apóstolos sejam, acima de tudo, testemunhas da sua ressurreição. “Sereis minhas testemunhas … até aos confins do mundo” (Act 1,8). Estas são as palavras que Jesus ressuscitado dirige aos apóstolos, imediatamente antes da sua Ascensão ao Céu. Pede-lhes que sejam testemunhas dele, o Senhor ressuscitado, precisamente Aquele que está a falar com eles.

             Os apóstolos compreenderam e assumiram isso como o essencial e específico da sua missão. Com efeito, quando se propuseram escolher o substituto de Judas, colocaram como condição que fosse alguém que pudesse tornar-se com eles testemunha da ressurreição de Jesus (Act 1,22).

            A ressurreição de Jesus, qual fundamento e garantia da ressurreição dos mortos e da vida eterna, constitui a Boa Nova que os apóstolos, com a força do seu testemunho, devem levar a todos os homens. Ao mesmo tempo, ela é a razão que, efectivamente, pode motivar e convencer os homens a acreditar em Jesus e a viver segundo o seu Evangelho.

            Sem a certeza de uma vida que se prolonga para além da morte, acreditar em Jesus faria de nós os mais miseráveis e dignos de compaixão de todos os homens (1Cor 15,19), como reconhece o apóstolo Paulo, ao escrever sobre este assunto aos coríntios. Sem a esperança firme na vida eterna, diz ainda o apóstolo, “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”, ou seja, parece de todo razoável seguir a lógica do comer e gozar a vida, do viver ao sabor dos instintos e das paixões.

             De facto, se os homens não acreditam nem esperam uma recompensa eterna, não será possível motivá-los a construir a sociedade humana segundo os valores do Reino de Deus, ou a viver segundo a moral do Evangelho, ou ainda a celebrar regularmente a fé em Cristo, sobretudo quando tudo isso exige renúncia ou sacrifício.

            Resulta evidente que ser testemunha de Cristo ressuscitado e testemunhar que acreditam na ressurreição dos mortos e na vida eterna é o principal dever dos apóstolos e, ao mesmo tempo, o melhor serviço que prestam aos homens.

            Ser testemunha de Jesus não se esgota, como é óbvio, no transmitir com exactidão os seus ensinamentos e no repetir com rigor o que lhes mandou fazer. Exige também – e isso não é menos importante para se poder falar de autêntica fidelidade – que os apóstolos se identifiquem com Cristo no modo como vivem e exercem a sua missão.

 

            Ser padre segundo Jesus Cristo é, no entanto, um modelo que, por uma questão de fidelidade ao próprio Cristo, deve ser adaptado e actualizado, tendo em conta os desafios dos novos tempos e dos diferentes ambientes culturais em que o ministério é exercido.

            Faz parte da missão da Igreja adaptar, em cada tempo, a proposta de Jesus, atendendo às circunstâncias históricas e culturais em que vive e deve cumprir a sua missão. Só assim, o ministério sacerdotal pode ser compreensível e eficaz no aqui e no agora de cada terra, de cada geração e de cada povo.

            Isto significa que, ao longo da história, são legítimos modos diferentes de viver e exercer o ministério sacerdotal, sem que se ponha em causa a fidelidade à missão de Jesus.

            Porém, neste processo podem correr-se alguns riscos. Por vezes, a “roupagem” humana desvirtua e não está em consonância com o “vestido novo” de Cristo. Outras vezes, os elementos humanos, compreensíveis e ajustados para um determinado tempo e cultura, adquirem o estatuto de definitivos e estendem-se a toda a Igreja. Noutros casos ainda, algumas leis humanas tornam-se mais determinantes e decisivas, na hora de reconhecer a vocação de alguém por parte da Igreja, do que os requisitos indicados por Cristo. Os critérios humanos podem sobrepor-se aos critérios divinos.

            Nestas circunstâncias, pode acontecer que alguns jovens, seduzidos por Cristo e dispostos a consagrar a sua vida ao serviço do reino de Deus, deixem de o fazer por considerarem ultrapassadas ou não se sentirem com forças para abraçar certas exigência eclesiásticas.

            E pode acontecer também, em sentido contrário, que outros jovens, mais do que por Cristo e pelo seu Evangelho, se sintam atraídos pelo que o modelo tem de humano, por aquilo que ele oferece em termos de uma carreira. Esses serão mais funcionários da Igreja do que servidores do reino de Deus. Servir-se-ão mais da Igreja para satisfazer a sua ambição pessoal e servirão menos como “simples e humildes trabalhadores na vinha do Senhor”.

            Estes perigos são reais e afectam negativamente a vida da Igreja. Tudo isto nos leva a supor que a Igreja estaria melhor quanto aos sacerdotes, se estes fossem menos dos que são e muitos dos que não puderam ser.

 

            É inegável o esforço de renovação que a Igreja tem feito, sobretudo com e a partir do Concílio Vaticano II, centrando-se sempre mais na Palavra de Deus.

No entanto, apesar das mudanças operadas, sobrevivem elementos e influências que ainda desvirtuam uma justa visão do sacerdócio e do ministério sacerdotal.

Antes de mais, faz-se ainda sentir uma excessiva influência do sacerdócio do Antigo Testamento, que era um sacerdócio exclusivamente cultual. Em segundo lugar, sobrevivem muitos elementos da visão do sacerdote correspondente à organização da Igreja segundo o modelo do império romano. Neste modelo, o sacerdote tem muito de funcionário, ao serviço das estruturas da Igreja. E o sacerdócio é visto numa linha de poder, de títulos, dignidades e privilégios.

Depois, temos o modelo que surge com o Concílio de Trento (sec. XVI), em que os sacerdotes são mais defensores da doutrina e das leis da Igreja do que profetas e evangelizadores; estão mais ligados ao culto e aos templos do que presentes e intervenientes na vida da sociedade.

Este modo de ser e de agir ainda está presente na Igreja dos nossos dias. No entanto, também é verdade que, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, a Igreja multiplicou e diversificou as suas actividades e acções pastorais, no afã de se tornar mais presente no mundo e iluminar todos os aspectos da vida do homem (a nível pessoal, familiar e social). Porém, continuando a prevalecer uma mentalidade clerical (os sacerdotes continuam a fazer muitas coisas que são da competência dos leigos) e, além disso, dando-se um abandono massivo de sacerdotes e uma diminuição acentuada das vocações, os padres viram-se envolvidos num autêntico frenesim pastoral. Este não só foi e é desgastante para os sacerdotes como se revela, quase sempre, estéril, ou seja, com um êxito aparente e efémero. Este activismo pastoral gerou e gera muitos padres stressados e desiludidos. Ora, padres que se cansam a trabalhar ou apenas cansados pelo desencanto em que vivem acabam por não ser autênticas testemunhas da transcendência e do amor de Deus. São, normalmente, padres sem alegria e sem esperança.

 

Como explicar todo este afastamento da proposta de Jesus e que a própria Igreja defenda e proponha um modelo tão diferente? O modo como a Igreja se vê e a consciência que tem da sua missão no mundo determinam o tipo de sacerdote que ela procura e forma.

 É verdade que o Concílio Vaticano II propõe e evidencia uma nova visão da Igreja, a chamada eclesiologia de comunhão. Esta, como é lógico, exige necessariamente uma nova visão do sacerdote. Ora acontece que, muito embora a Igreja defenda, teoricamente, uma nova eclesiologia, ela continua a ser, prevalentemente, segundo o modelo antigo e continua a querer e a formar padres que sirvam esse modelo de Igreja.

 A igreja defende e apresenta, teoricamente, uma nova visão e compreensão de si e da sua missão, mas falta-lhe a ousadia de se repensar à luz da Palavra de Deus, segundo a radicalidade do Evangelho de Jesus.

A Igreja ainda está demasiado presa ao modelo antigo. Muitos, sobretudo os que mais mandam, sabem que as vantagens e os privilégios humanos que gozam dentro da Igreja só podem sobreviver dentro desse modelo. Por isso mesmo o defendem, e apenas vão permitindo ou promovendo mudanças que se situam mais na linha da pastoral do remendo novo para salvar o vestido velho (o modelo antigo) do que na linha dos odres novos para vinho novo (Mc 2,21-22).

Uma Igreja repensada à luz da Palavra de Deus, será uma Igreja que se pensa e organiza menos em função de si mesma e mais na linha de serviço ao reino de Deus. Essa será uma Igreja com menos poder e exercerá o poder que lhe é próprio sem ostentação nem vaidade, mas com simplicidade e autêntico espírito de serviço. Será uma Igreja com menos culto e mais evangelizadora; com menos dogmas e certezas e mais fé e tolerância; uma Igreja menos moralista e mais humana; com menos títulos e dignidades e mais acessível e fraterna; será menos massa e mais fermento; terá menos visibilidade mas irradiará mais luz no mundo; uma Igreja menos romana e mais católica, menos eclesiástica e mais apostólica; e, acima de tudo, será uma Igreja mais fiel a Cristo.

Uma Igreja assim aceitará e formará padres segundo o coração de Deus: homens verdadeiramente seduzidos e apaixonados por Cristo, testemunhas credíveis e alegres da sua ressurreição, servidores humildes e dedicados do Reino.

 

Ser padre segundo o coração de Deus implica, como dissemos antes, que o padre continue a missão de Cristo e se identifique com Ele no modo como vive e exerce o seu ministério. Assim, o padre, tal como Jesus, deve viver como um cidadão comum entre o comum dos cidadãos do meio em que vive e realiza a sua missão. Mas, ao mesmo tempo, ele deve fazer aí toda a diferença, pelo testemunho de fé que dá.

Nessa linha, o sacerdote deve evitar uma dupla tentação. Por um lado, querer ser ainda demasiado diferente das pessoas no que deve ser igual a elas, ou seja, exigir ou aceitar tratamento especial ou vantagens humanas em nome ou a pretexto do que é. E, por outro, tornar-se demasiado igual no que deve ser diferente, seguindo o princípio, muito divulgado, de que o padre é um homem como outro qualquer. Ora, o padre é um homem como os outros enquanto não tem mais direitos do que eles. Mas ele não é um homem como outro qualquer no sentido que tem mais deveres e é legítimo esperar mais dele.

            Concretizemos:

             O sacerdote deve anunciar Cristo ressuscitado aos homens e mostrar-lhes que acredita na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Isso exige que sua fé se torne visível no modo como vive e realiza a sua missão sacerdotal: a humildade e o espírito de serviço com que exerce o ministério; o desprendimento em relação aos bens materiais e a liberdade com que usa o que possui; o amor e a alegria com que abraça a cruz de cada dia; a coragem com que enfrenta os desafios da missão, a esperança com que olha o futuro, a serenidade com que fala da morte e o entusiasmo com que fala do Céu.

            O sacerdote deve falar de Deus    e celebrar o culto com frequência e dignidade. Mas é necessário que deixe transparecer no quotidiano da sua vida que o Deus, em quem acredita e ao qual presta culto, faz dele um homem verdadeiramente feliz.

            O sacerdote deve pregar a moral do Evangelho e propor às pessoas que a assumam como um projecto de vida. Mas é necessário que, pelo seu agir, mostre que é possível e compensa seguir essa moral, e que só a Lei de Cristo torna o homem plenamente livre.

 

 

            Padres segundo o coração de Deus, eis o modelo que deve ser proposto aos jovens de todos os tempos! Só Jesus, conhecido na verdade do que é e da sua missão, do que propõe e pede, pode entusiasmar os jovens e motivá-los a segui-lo.

            Padres segundo Jesus Cristo, eis os padres que devemos pedir a Deus, pois são precisamente esses e só esses que Ele nos quer dar.

            Entre muitas outras causas que explicam a diminuição das vocações e das ordenações sacerdotais, considero como a mais determinante o facto de se continuar a propor um modelo de padre manifestamente ultrapassado e falido, que corresponde a um modelo de Igreja igualmente ultrapassado e que não corresponde ao sonho de Cristo, como dissemos anteriormente.

            Alguns poderão contra-argumentar, apontando o aumento significativo de vocações e ordenações em África e na Ásia. O papa Bento XVI, no seu livro/entrevista Luz do Mundo salienta que a Igreja nunca teve tantas vocações e sacerdotes como hoje. Porém, a realidade já está a desmentir essa ilusão. Algumas dioceses, que nas últimas décadas tiveram essa primavera de vocações, já estão a sentir a crise, à medida que se altera a situação económica, social e cultural das mesmas.

            Por sua vez, a falta de eficácia da nossa oração pelas vocações também se prende com esta mesma razão. O problema não está tanto em rezarmos pouco, mas no tipo de padres que pedimos a Deus e nas motivações que ainda nos levam a pedir esses mesmos padres.

            Chego a pensar que Deus está “cansado” de ouvir a nossa oração e que Ele não nos atende, dando-nos os sacerdotes que o mundo precisa e Ele realmente nos quer dar, porque não são esses que lhe pedimos e estamos dispostos a aceitar. Chegou a hora de não sermos nós a impor a Deus o modelo de padres que queremos. Pelo contrário, é tempo de pedir e aceitar os padres que Deus nos quer dar, padres segundo o seu coração.

 

            “Quando for grande quero ser padre”. Este não é, como o título poderia sugerir, um livro de pastoral vocacional. Também não fala daquele meu sonho de criança que realizei com a minha ordenação sacerdotal.

            Neste pequeno livro partilho reflexões e meditações que fiz sobre a vocação e missão do sacerdote, a sua identificação com Cristo e o ser padre segundo o coração de Deus. Nelas aprofundo e questiono, de um modo suave e sem tensões, o meu ser padre e também o ser padre na Igreja.

             Por outras palavras, neste livro partilho o sonho de ser padre segundo Jesus Cristo, o sonho que anima o hoje da minha vida sacerdotal. Este é, em si mesmo, um sonho inacabado, um sonho para toda a vida. Na verdade, há sempre um mais no mistério da vida e da missão de Jesus que nos ultrapassa e para o qual devemos tender sem cessar. Há sempre um mais, algo de novo e surpreendente no convite de Jesus: “vinde e vereis” (Jo 1,39); há sempre um mais, algo de novo e fascinante no seu desafio: “faz-te ao largo” (Lc 5,4). É este mais que me impele a lançar as mãos ao arado e olhar sempre em frente (Lc 9,62), a acreditar no futuro e a ser homem de esperança.

            Como todos os sonhos, também este meu sonho de ser padre comporta uma acentuada dose de loucura. E mau sinal será para mim que os leitores não encontrem sinais dela neste livro. O sonho, a liberdade e a loucura são realidades indissociáveis. O sonho potencializa a nossa liberdade e o exercício desta liberdade é visto como loucura por aqueles que não conhecem a liberdade de sonhar.

            Eu chego a pensar que esta loucura é um dom de Deus. E porque sinto a grandeza que me dá, o que mais temo é que, por minha culpa, a possa perder. Sim, se perder esta loucura, é sinal que morreu o meu sonho e, com ele, perdi a minha liberdade.

Mensagem de Natal

16.12.10, dioceseguardacsociais

 

Natal de esperança em tempos de crise

 

 

Vamos celebrar o Natal de 2010, em tempos marcados pela crise, sem fim à vista, e que está a fazer sofrer muitas pessoas.

Não temos a pretensão de identificar todas as causas desta crise, mas não podemos deixar de lembrar as mais visíveis e que estão a pedir mudanças de comportamento corajosas. Entre essas, estão os jogos de interesse que continuam a fazer-se nas costas do povo, envolvendo sobretudo decisões políticas, económicas e financeiras. Estão também as atitudes egoístas de muitos que só procuram defender os seus interesses e do seu grupo, sem respeito pelo bem comum e pelos direitos de todos. Igualmente temos de denunciar a falsidade do princípio, para muitos indiscutível, de que o bem-estar das pessoas coincide com o elevado consumo de bens materiais. Há ainda muita falta de sentido de responsabilidade relativamente ao uso dos recursos materiais que se têm e mesmo que se não têm, o que está a provocar níveis desastrosos de endividamento das pessoas, das famílias e mesmo do país. Acrescem a estas os baixos níveis de educação para a cidadania que nós temos e o facto de as iniciativas de participação no desenvolvimento pelo trabalho não serem elevadas. Lembremos que as nossas escolas ainda conseguem transmitir alguns bons níveis de informação, mas quando se trata de ajudar os alunos a elaborar boas decisões e levarem-nas à prática, com eficácia, revelam muita dificuldade. Por sua vez, o facto de sermos o país da Europa em que a percentagem de jovens licenciados à procura de emprego é das mais elevadas, se não mesmo a mais elevada, não nos ajuda.

E continua a ser verdade que o factor mais decisivo para o desenvolvimento das sociedades são as pessoas, pessoas bem preparadas e com carácter, capazes de estabelecerem objectivos bem definidos e procurarem os meios indispensáveis para os atingir, incluindo a capacidade de sacrifício.

Preocupa-nos que seja alto e em crescendo o número de pessoas que estão fora do trabalho. Isto porque o trabalho, mais do que um meio de produção material, é o lugar por excelência da realização de cada pessoa e da sua integração na vida da sociedade.

Temos conhecimento do grande número de pessoas que passam necessidade e não têm os bens considerados essenciais.

De olhos postos no Presépio de Belém e no Menino Jesus, rosto visível de Deus que, sendo rico, Se fez pobre para nos ajudar a combater todas as formas de pobreza, queremos estar ao lado dessas pessoas.

E sentimos que hoje há novas formas de pobreza e também novos pobres, devido às mudanças rápidas da situação social introduzidas pela crise que continua a afectar-nos e de que maneira.

Para pormos em prática as lições do Presépio, queremos, neste Natal, como cristãos e discípulos do Menino de Belém:

Procurar conhecer melhor a situação real das pessoas que precisam, sobretudo através da relação de proximidade com elas;

Que, em cada Paróquia e em cada povoação ou bairro, haja grupos paroquiais de acção social, para exercerem a prática da proximidade e da caridade;

Conhecer e identificar bem as situações de pobreza mais gritantes, nos nossos meios, para, umas vezes, directamente, outras vezes recorrendo a instituições, como é o caso do Fundo Social Solidário recentemente criado pela Conferência Episcopal, lhes podermos dar resposta pronta;

Queremos, finalmente, marcar a nossa atenção de caridade para com os outros, partilhando do muito ou pouco que temos com os que mais precisam.

Por isso, lembro o pedido que foi dirigido oportunamente aos cristãos portugueses pelo Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social para que doassem, com esta finalidade, 20% do seu vencimento mensal. Este apelo desejo também fazê-lo, neste Natal, aos membros do clero e aos leigos da nossa Diocese e aponto como destino desta entrega a nossa Caritas Diocesana ou o Fundo Social Solidário promovido pela Conferência Episcopal.

Que a luz de Cristo, presente no Coração do Natal, nos ilumine naquelas decisões e naqueles gestos que podem contribuir para encontrar os novos caminhos capazes de dar novos rumos à Sociedade actual e ajudar a superar a crise global que persiste e continua a fazer sofrer muita gente.

 

Guarda, 15 de Dezembro de 2010

 

+ Manuel Felício, Bispo da Guarda

Faleceu D. José dos Santos Garcia

13.12.10, dioceseguardacsociais

 

Faleceu este sábado, 11 de Dezembro, D. José dos Santos Garcia, bispo emérito de Porto Amélia (Pemba), em Moçambique. O funeral está marcado para hoje (13 de Dezembro), segunda-feira, às 15.00 horas, em Cucujães, Oliveira de Azeméis.

 

D. José Garcia nasceu em Aldeia do Souto, concelho da Covilhã, a 16 de Abril de 1913. Foi ordenado presbítero a 25 de Julho de 1938. Tendo sido nomeado bispo de Porto Amélia (Pemba), em Moçambique, foi ordenado Bispo, em Nampula, a 16 de Julho de 1957.

D. José dos Santos Garcia trabalhou, enquanto jovem padre, nos seminários de Portugal. Foi enviado, em 1955, para Moçambique, onde chegou a 31 de Dezembro.

Na antiga colónia portuguesa foi um grande obreiro da «Missão do Mutuáli», Diocese de Nampula, onde construiu a Igreja, internatos masculino e feminino e centro de saúde.

Nomeado Bispo de Porto Amélia, hoje Pemba, em 1957, promoveu uma pastoral planeada em que eram prioridades a formação do clero, dos leigos e de religiosas moçambicanas. Para isso criou os Seminários, a Escola de Professores Catequistas e a primeira congregação religiosa de Moçambique, Filhas do Coração Imaculado de Maria. "Recordo com saudade aqueles tempos" - afirmou o prelado.

Promoveu a evangelização e dotou as missões de esmerada estrutura. Sofreu com a divisão da sua diocese nos tempos da luta pela independência quando não podia visitar todos os cristãos.

Voltando a Portugal em 1974, colaborou com a Diocese da Guarda naquilo que lhe foi pedido, nomeadamente, no Seminário da Guarda, onde deu aulas de missionologia aos seminaristas.

Depois dos 85 anos dedicou-se a reformar a Igreja e as capelas da sua terra natal, Aldeia do Souto e a escrever livros: «Alicerce e Construção duma Igreja Africana»; «Diário do Mutuáli»; «Evangelização de Cabo Delgado» e «Notas para a História da Paróquia de Aldeia do Souto».

Em Outubro de 2006, nas celebrações do dia da cidade da Covilhã, a edilidade local concedeu-lhe a medalha de ouro da cidade.

D. José Garcia esteve nestes últimos dias no Seminário da Guarda, tendo sido levado para Cucujães nas últimas horas da sua vida.

Tinha 97 anos.

Apresentação do livro “Quando for grande”

10.12.10, dioceseguardacsociais

No dia 17 de Dezembro, na Biblioteca Eduardo Lourenço, na Guarda

 

“Quando for grande quero ser padre” é o título do livro, do Padre José Manuel Almeida Martins, que vai ser apresentado, no dia 17 de Dezembro, às 18.00 horas, na Biblioteca Eduardo Lourenço, na Guarda.

 

No prefácio, o Bispo da Guarda escreve: “Estamos perante um texto vivencial, onde é vertida uma experiência sacerdotal, lida e avaliada a partir da Bíblia. Não tem outras citações que não sejam citações bíblicas e do Magistério da Igreja”.

D. Manuel Felício adianta: “É um texto que sintoniza também com as preocupações da Diocese da Guarda para o ano pastoral em curso, as quais pretendem levar as pessoas até ao encontro vivo com Cristo, por meio da Bíblia. Remeto, a propósito, para o que se diz, neste texto, sob o título «Testemunhas de Cristo Ressuscitado», sobre a genuína missão da Igreja que deve sempre levar as pessoas a um encontro pessoal com Cristo vivo e, ao mesmo tempo, ajudá-las a viver, no quotidiano, em consonância com essa fé”.

 

Na introdução do livro, o Padre José Manuel Almeida Martins refere: “Partilho nestas páginas algumas reflexões e meditações que fiz sobre a vocação, formação e missão do sacerdote, a sua identificação com Cristo e o ser padre segundo o coração de Deus”. E acrescenta: “Parti sempre da Sagrada Escritura, tive nos meus horizontes os ensinamentos da Igreja sobre estes temas, deixei-me interpelar pela realidade que conheço e implorei sempre ao Espírito Santo que me ajudasse a captar a verdade e a expô-la com caridade. A Sagrada Escritura é a verdadeira “Constituição” da Igreja, segundo a qual esta deve reger toda a sua vida e missão. A Igreja em si, o modo como se compreende e se apresenta, como se organiza e actua, como entende o mundo e se relaciona com ele; os seus ensinamentos e as suas leis, também o que o que se refere à vida e missão do sacerdote, tudo deve estar em consonância e ser a expressão da palavra de Deus, que a Bíblia transmite”.

O Padre José Manuel Almeida Martins é natural de Gonçalo Bocas, concelho da Guarda. Fez os estudos nos seminários dos Missionários Combonianos  de 1968 a 1977, e Seminário Maior da Guarda de 1977 a1981.

 

Ordenado sacerdote a 8 de Abril de 1982, desempenhou as funções de membro da equipa formadora do Seminário Maior da Guarda – 1981-84.

Fez especialização em ciências bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma 1984-87. Foi professor de Sagrada Escritura no Seminário da Guarda 1987-99, e durante dois semestres (1995 e 1996) no Seminário de Teologia de Benguela (Angola).

Pároco desde 1987, viveu sempre integrado numa comunidade sacerdotal. Actualmente é pároco de Celorico da Beira e outras paróquias do mesmo Arciprestado.

 

Publicou já os seguintes livros: “A Bíblia: Deus na História dos Homens”- 1993; “A Verdade da Bíblia é Jesus Cristo” – 1997; “Deus, o Pai da Misericórdia e da Alegria” -2000.

O livro “Quando for grande quero ser padre” é publicado pela Paulus Editora.

Livro dá a conhecer “a recepção do Concílio Vaticano II na Diocese da Guarda”

10.12.10, dioceseguardacsociais

Apresentação no dia 15 de Dezembro, na Covilhã

 

“A Recepção do Concilio Vaticano II na Diocese da Guarda” é o título do livro que será lançado, no dia 15 de Dezembro, pelas 20.30 horas, no Anfiteatro das Sessões Solenes da Universidade da Beira Interior, na Covilhã.

 

Trata-se de um trabalho de investigação do Padre Henrique Manuel Rodrigues dos Santos, a propósito do grande acontecimento eclesial, o Concilio Vaticano II. Saber como se reagiu, na Igreja em Portugal, e na Diocese, ao anúncio de que se iria realizar um Concilio Ecuménico, foi um dos objectivos deste trabalho. O livro procura, também, analisar de que forma, na Diocese e em Portugal, se acompanharam os trabalhos da Assembleia Conciliar, bem como descobrir o entusiasmo a celeridade e facilidade com que se aplicaram as reformas emanadas do Concilio.

De acordo com o Padre Henrique dos Santos, “o grande objectivo foi saber até onde a Igreja do Concilio Vaticano II existe, efectivamente, na Diocese da Guarda”. E acrescenta: “À volta deste tema, giram imensas questões. Posturas pessimistas e negativas, receosas, amedrontadas, e de não suficiente compreensão, contrastam com visões vanguardistas, idealistas e necessidade de mudança e transformação. Diferentes posturas estão intimamente relacionadas com os aspectos culturais e políticos. Por isso, a primeira e segunda parte deste livro procuram recolher as notas fundamentais da sociedade portuguesa desde que foi instaurada a Monarquia Constitucional até ao fim do Estado Novo, passando pela implementação da República e pelo assalto que lhe foi feito pelo regime ditatorial”.

 

Sobre o livro, o Padre Henrique dos Santos refere: “Trata-se de um de um trabalho inovador não apenas na Diocese da Guarda mas também no país. Com ele, pretendi preencher um período histórico diocesano, mas também escrever um capítulo da mega obra que poderíamos intitular “A Recepção do Concilio Vaticano II em Portugal” que está por fazer, e que é um projecto que me apaixona e desenvolverei num futuro próximo”.

O Padre Doutor Henrique Manuel Rodrigues dos Santos é natural do Cadaval, mas residiu durante quase toda a infância e tem as raízes familiares em Almeida. Nasceu a 1 de Novembro de 1971 e foi ordenado presbítero a 8 de Dezembro de 1995.

Actualmente é Capelão e Professor na Universidade da Beira Interior (Covilhã);Delegado Diocesano para o Diálogo Ecuménico e Inter-Religioso e Professor no Instituto Superior de Teologia (Viseu).

 “A recepção do Concílio Vaticano II na Diocese da Guarda” é o tema da Tese de Doutoramento que defendeu, no dia 18 de Março de 2009, na Universidade Pontifícia de Comillas de Madrid, em Espanha.

 

 

 

 

 

Agenda Episcopal de D. Manuel Felício

10.12.10, dioceseguardacsociais

De 12 a 18 de Dezembro, D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, participa nas seguintes iniciativas:

Dia 12, Domingo: Encerramento de Visitas Pastorais em Valbom (9.30 horas), Pala (10.45 horas) e Freixedas (12.00 horas).

Dia 13: 10.30 horas - Reunião dos bispos do Centro, em Coimbra.

Dia 14: 11.30 horas – Celebração preparatória do Natal, no Rochoso; 14.30 horas – Visita Pastoral em Pinhel.

Dia 15: 12.00 horas – Celebração preparatória do Natal no Colégio da Cerdeira;

14.30 horas – Visita Pastoral nas Paróquiass de Ervedosa e Bogalhal; 20.30 horas – Na UBI (Covilhã), para apresentação de livro sobre a Diocese da Guarda.

Dia 16: 10.00 horas – Visita ao Colégio de Nossa Senhora dos Remédios (Tortosendo), com celebração preparatória do Natal; 14H30 – apresentação da mensagem de Natal; 16H00 – Visita Pastoral nas Paróquias de Azevo e Cidadelhe.

Dia 17: 11.00 horas – Na Escola Secundária da Sé, celebração preparatória do Natal; 17H00 – Na Biblioteca Municipal, para apresentação de livro sobre a vida sacerdotal.

Dia 18: Encerramento de Visitas Pastorais nas Paróquias de Cidadelhe (18.00 horas) e Azevo (19.15 horas).

Encontros do Clero

10.12.10, dioceseguardacsociais

 Durante o mês de Dezembro, terão lugar os seguintes encontros do Clero da Diocese da Guarda: Dia 15 – Para a zona Pastoral Oeste, na Casa Rainha do Mundo (Gouveia); Dia 16 – Para a Zona Pastoral Norte, no Centro Pastoral de Pinhel; Dia 17 – Para a Zona Pastoral Centro, no Seminário Maior da Guarda.

Programa da manhã – a) Análise do projecto “Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal”; b) legislação sobre festas e administração paroquial. Programa da tarde – por arciprestado, fazer um primeiro balanço sobre como está a ser aplicado o plano pastoral diocesano.

Retiro do Advento no Rochoso

10.12.10, dioceseguardacsociais

 

“Com os Magos ao encontro de Jesus” é o tema do Retiro do Avento que vai decorrer no Rochoso, no dia 12 de Dezembro. O encontro terá lugar no Colégio do Rochoso com início às 10.00 horas. Haverá dois grupos de retiro, um para os jovens (dos 15 aos 29 anos) e outro para os adultos (a partir dos 30 anos).

O retiro termina com a celebração da Missa, na Igreja paroquial do Rochoso, às 16.00 horas.

Aura Miguel fala sobre “OS DESAFIOS DA VISITA DE BENTO XVI”

02.12.10, dioceseguardacsociais

 No dia 3 de Dezembro (sexta feira), pelas 21.00 horas, a jornalista Aura Miguel realizará uma conferência no Teatro Cine da Covilhã, subordinada ao tema OS DESAFIOS DA VISITA DE BENTO XVI.

Inserida no âmbito da recente visita a Portugal do Papa Bento XVI esta conferência é organizada pela paróquia de Nossa Senhora da Conceição – Covilhã, será aberta ao público em geral e tem entrada livre. A referida conferência faz parte integrante do programa da Novena e Festa da Imaculada Conceição – 2010 organizada anualmente na paróquia em colaboração com vários movimentos eclesiais e entidades civis.

A jornalista Aura Miguel é editora de assuntos religiosos da Rádio Renascença e é a única vaticanista portuguesa com acreditação permanente na Santa Sé. Tem acompanhado todas as visitas papais fora do Vaticano. Conta na sua agenda, com 51 viagens apostólicas com João Paulo II e quase duas dezenas com o actual papa Bento XVI.

A propósito da visita do papa ao nosso país, a jornalista da Rádio Renascença publicou recentemente o livro «Razões de Bento XVI».